terça-feira, 5 de abril de 2011

Tereré: A Origem

Histórico

Há muitas histórias controversas a respeito da origem do tereré. As pessoas confudem alguns acontecimentos e acabam por contar erroneamente a história desse traço cultural. É impossível contar a história do tereré sem antes introduzirmos a história do Mate e alguns acontecimentos históricos. 

Antes da chegada dos europeus à América, os índios guaranis já usavam as folhas da erva-mate (chamada de ka'a karai, "folha sagrada", ou côgoi, palavra esta que foi posteriormente adaptada ao idioma português como "congonha") para preparar uma bebida estimulante. Era o chamado ka'a y (traduzido do guarani, "água de folha"). As folhas da erva eram colocadas em uma cuia com água e o líquido era então chupado através de uma taquara, caniço ou osso (o chamado tacuapi), filtrado através de um trançado de fibras vegetais. Segundo o mito guarani, a bebida foi descoberta quando um velho índio não conseguiu mais acompanhar as andanças da tribo devido à sua idade avançada e teve que ficar para trás. Sua filha decidiu ficar com ele, mas ele queria que ela seguisse com a tribo, então o deus Tupã (ou então São Tomé) lhe ensinou a preparar uma bebida com as folhas da erva-mate, bebida esta que lhe daria forças e que permitiria a ele e a sua filha acompanharem a tribo. 

A bebida era consumida também pelos índios carijós, xetás, guairás, charruas, caingangues e os incas, pois todos eles mantinham relações comerciais com os guaranis. O termo "mate" tem origem no idioma dos incas, o quíchua, através do vocábulo mati, significando "cuia, recipiente" e designando a cabaça na qual até hoje se bebe a infusão de erva-mate. O termo "porongo", que nomeia a planta que fornece a cuia usada para beber o mate, também vem do quíchua, significando "vaso de barro com o gargalo estreito e comprido".

Devemos tomar cuidado ao citar os Xetás como os precursores desse costume no mato Grosso do Sul, pois, esses viviam na sua maioria no estado do Paraná. 

Os colonos espanhóis no Paraguai observaram que os índios guaranis eram viciados na bebida e inicialmente os jesuítas espanhóis proibiram seu consumo devido a seus supostos efeitos afrodisíacos, qualificando a planta como "erva do diabo". Mas os espanhóis não tardaram a experimentar a bebida e aprová-la, passando a utilizá-la como ingrediente básico da sua dieta alimentar. Diz-se que o primeiro contato dos europeus com a bebida foi quando as tropas do general espanhol Irala se encontraram com os índios guaranis da região de Guaíra (atual estado brasileiro do Paraná), em 1554 e observaram o consumo generalizado da bebida entre os índios. 

Foram os europeus que introduziram o metal nos apetrechos do mate: a bomba passou a ser feita de prata (abundante na região na época, oriunda das minas de Potosí, na atual Bolívia), com detalhes em ouro. A bomba passou a contar com um adorno colorido perto do bocal chamado "pitanga". A cuia passou a ter o bocal revestido de prata. E foi criada uma armação de metal para sustentar a cuia, quando ela não estivesse sendo usada. Para os menos abastados, em vez da prata era utilizado outro metal branco menos valioso, como a alpaca ou o alumínio. A água usada no preparo do mate pelo índios guaranis era, inicialmente, fria. Foram os europeus que passaram a utilizar água quente no preparo da bebida, muito provavelmente para evitar doenças oriundas de água contaminada não fervida. 

A palavra castelhana cimarrón, que significa "selvagem" e que era utilizada para se referir ao gado bovino que havia sido introduzido pelos espanhóis na América do Sul e que havia se dispersado, tornando-se selvagem, foi usada pelos luso-brasileiros do Rio Grande do Sul para designar a bebida, que passou a ser conhecida como "chimarrão". 

No século dezoito, com a expulsão dos jesuítas da América, ocorreu uma desorganização no setor produtivo da erva-mate. Isto estimulou o crescimento da extração de erva-mate na região dos atuais estados brasileiros do Paraná e de Santa Catarina. 

Em 1822, durante uma viagem de seis anos pelo interior do Brasil, o botânico francês Auguste Saint-Hilaire descreveu cientificamente pela primeira vez a erva-mate e lhe deu seu nome científico: Ilex paraguariensis

No século dezenove, o Paraguai se isolou dos outros países, proibindo a exportação de erva-mate para fora do país. Isto fez a Argentina e o Uruguai substituírem a erva-mate paraguaia pela brasileira, desenvolvendo o seu cultivo no Paraná e em Santa Catarina, regiões outrora despovoadas. Era o chamado ciclo da erva-Mate no Paraná e em Santa Catarina. Como consequência, o Paraná se separou da província de São Paulo para constituir a província do Paraná em 1853. O processo de isolamento paraguaio culminou na eclosão da guerra do Paraguai em 1864. Após a derrota paraguaia, o nordeste paraguaio foi anexado definitivamente pelo Brasil e o sudeste paraguaio, pela Argentina. 

Em 1932, eclodiu a guerra do Chaco entre Paraguai e Bolívia. Segundo a lenda, os soldados paraguaios passaram a tomar o mate frio, para não acender fogueiras que denunciariam sua posição ao inimigo. Deste costume, teria surgido o hábito paraguaio do tereré. O tereré teria penetrado no Brasil pela cidade de Ponta Porã e, daí, se expandido para o resto do atual estado brasileiro do Mato Grosso do Sul, já com o nome aportuguesado para "tereré" (com o "e" final aberto) 

Temos aí dois momentos que apontam pra origem do tereré. Primeiramente com a sinalização de que as tribos Guaranis consumiam o mate com a água fria e posteriormente com a chegada dos europeus, passaram a consumir o mate com água quente afim de se evitar doenças. Num segundo momento, marcado pela guerra no Chaco o hábito é firmado pelos soldados paraguaios. Passando assim a ser considerada uma bebida paraguaia. 


2 comentários:

  1. Boa Noite, Márcio

    Vi um post de comentário seu em outro blog e convido-o a visitar meu blog. Tenho conversado sobre a proposta do "novo" Código Florestal.

    Abraço

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  2. Viciada em tereré....muito bom o post!!!

    Bejão

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